"Esse blog foi criado devido a intolerância da equipe do FACEBOOK segundo eles as imagens eram de "conotação e incentivo sexual" e críticas homofóbicas de alguns perfis do mesmo, como falo de amor e não de sacanagem me reservo o direito de não me calar."



quarta-feira, 13 de junho de 2012




MEU NAMORADO IMAGINÁRIO
(Um texto de Augusto Martins)

A gente nunca cansa de ouvir uma boa conversa quando o assunto é homens, mulheres e relacionamentos afetivos, vida e morte, beleza e autoestima, desafios e superações. Sabe aquelas dúvidas que todos nós temos quando embarcamos (ou pensamos em embarcar) em um relacionamento? O homem ideal existe? Quais os requisitos do seu homem ideal?

Foi numa conversa via facebook que um dos meus amigos me indicou o livro da ex-BBB, Elenita Rodrigues. Confesso que eu não gostava da Elenita no reality show, mas mudei de opinião ao ler o seu livro.

“Homem Ideal e Outras Conversas” é basicamente um misto de textos sobre amor-próprio, fim de relacionamento, solteirice, amor, infância e um monte de coisas confusas e interessantes. Ouso em dizer ainda que não se equipara à grandeza das palavras da Martha Madeiros – escritora brasileira, que fez sua carreira literária deslanchar nos últimos anos escrevendo muito bem sobre a descrição de sentimentos universais provocados pela perda e pelo amor em si. Quem tiver oportunidade, leia os livros de Martha; é uma bagagem pra vida toda.

Vasculhando algumas pastas esses dias achei antigas fotos que me levou para uma cena que nunca me esqueci: era junho de 2009. Estava sufocado e não via a hora de terminar o ensino médio. Levantava da cama e seguia rumo à escola como se todo dia eu enfrentasse um parto normal para sair da minha cama, com grito, choro, dor e revolta. Tinha terminado um relacionamento e não passaria os dias dos namorados ao lado de uma paixão de outono. Uma sensação de quietude amortizante pairava no meu quarto, na rua, na escola. Só as amigas mais próximas que me consolava.

Teve um dia que não me controlei: chorei durante as cinco aulas e fui surpreendido com a seguinte voz lá no fundo da sala: “mas por que ele tá chorando? Ele é gay” Juro para vocês que não sabia o que responder. Mal sabe ela que o amor homossexual é tão legítimo quanto ao hétero.

Voltando a história do livro e aproveitando a data de hoje – dia dos namorados – resolvi transcrever um trecho do “Homem Ideal e Outras Conversas” para todos aqueles que buscam encontrar esse tal homem.

Meu namorado imaginário tem mais ou menos a mesma idade que eu, não fuma, gosta de filosofia (pode não entender nada, mas tem que achar lindo!), não tem história mal resolvida com ninguém, gosta de cinema, domingo em casa, passeio no parque e é absolutamente encantado pela beleza das coisas pequenas: um cheiro, um beijo, um carinho, um jasmim. Sem motivos. A gente tem um cachorro (que pode morar na casa dele, já que meu apartamento é MUITO pequeno), planos compartilhados de visitar o Oriente, plantar flores num jardim e passar férias longas em um país estrangeiro. Desses bem esquisitos. A gente se entende pelo olho, pele, saliva, coração. Nosso tesão começa é na alma. Só que explode.

Meu namorado imaginário tem o sorriso mais bonito do planeta Terra. E quando sorri de cantinho (disfarçando pra eu não ver que ele não gostou do meu sapato cor de melancia), eu finjo que fico brava, mas na verdade eu acho lindo. E ele me abraça de um jeito que me faz sentir mais perto de Deus. E a gente se encontra naquele intervalo entre as coisas que são ditas e as coisas que as palavras não alcançam… e se transubstancia em galáxias, cores, cometas, estrelas, incandescências… tudo ao mesmo tempo (imanências).

Meu namorado imaginário, às vezes vai comprar pão quentinho de manhã bem cedo, mas às vezes fica na cama ronronando feito um gatinho, cheio de manha, até tarde enquanto pede mais um dengo emburrado. E a gente se embola num aconchego gostoso de quem esqueceu que segunda é dia de trabalho. E as histórias de domingo estampam sorrisos mudos que nos escorrem pelos olhos. E a gente chora sem lágrimas. E se sente meio como numa história de cinema francês.

Meu namorado imaginário apoia meus sonhos, mesmo que não concorde com eles. É um homem que admiro muito mais do que consigo expressar com palavras. Tem manias tão irritantes quanto lindas que nos rendem as mais inusitadas histórias. Como ter medo de escuro ou não lavar a camisa em dia de jogo contra o Palmeiras. Ele me ensina a ser uma pessoa melhor. E me entende quando eu não consigo. Porque ninguém consegue às vezes. Nem ele.

Com meu namorado imaginário cada dia é um mergulho. E eu não preciso ter medo, porque nosso desejo é enternecer nosso universo. De um jeito que a gente não entende, mas que vibra e de repente faz tudo parecer que tem sentido. E a gente entende, como naquele texto da Marla, que ‘encontramos leveza nas emoções que nos transbordaram porque estávamos prontos e escrevemos um dicionário de palavras distraídas. Adentramos no corpo de um poema recente, ainda disforme e falamos de amor usando a metáfora mais inocente. E então agradecemos profundamente por esta outra pessoa inteira, que jamais será uma metade e que, para a soma, com todas as alternativas que teve, preferiu seguir…’

Namorei três vezes e nunca passei o dia nos namorados com alguém ao meu lado. Acho que é essa é minha sina: não receber presentes no dia 12 de junho, não ganhar mimos e muito menos café da manhã na cama. Quando? Onde? Quem? Eu não sei. Mas o mais importante é mesmo a jornada e não a meta. Um dia a gente o encontra e ele nos reconhece.